Meninos têm heróis que salvam o mundo, meninas têm princesas que precisam ser salvas. Esse fato é uma expressão do sexismo o qual é intrínseco da cultura patriarcal. Mas o quê é sexismo? Sexismo é discriminar uma pessoa pelo sexo dela, seja feminino ou masculino. É explorar e oprimir alguém devido o seu sexo. E qual sexo tem sido explorado (precipuamente através da pornografia e prostituição) em quase todas as culturas? O sexo feminino. Outra característica do sexismo é a exacerbada valorização de um dos sexos. Qual é o sexo supervalorizado? O masculino.
Você deve estar rindo agora porque falei que mulheres sofrem exploração e opressão devido o seu sexo, mas é verdade. Um exemplo clássico de opressão é o est*pro, porque est*pro não é sobre sexo, é sobre poder; o poder de dominar e aterrorizar a vida de mulheres para que vivam impactadas, para que não tenham DIREITO À CIDADE, por medo de sofrer essa violência. Exemplo clássico de opressão e exploração sexual de mulheres é o est*pro nas guerras. Já ouviu falar das mulheres de conforto? Eram mulheres coreanas, chinesas, japonesas e até de outras nacionalidades que foram traficadas para o Japão para serem violentadas por militares japoneses na época da Segunda Guerra Mundial.
Entendem agora porquê algumas pessoas odeiam o feminismo, porquê odeiam um movimento pacífico, como o movimento de Gandhi na Índia? Porque tanto homens como mulheres lucram de alguma forma com a opressão e a exploração sexista.
Com relação ao sexismo presente nos filmes, séries, livros e hq: olhe os quadrinhos iniciais (e alguns atuais) da Marvel e da DC. Os heróis são majoritariamente HOMENS, e quando aparece uma heroína, ela é super sexualizada, através das roupas (marcam muito a bunda e os peitos). Fora os peitos que são anormalmente grandes. Isso apenas reflete a visão pornificada que as pessoas têm sobre as mulheres. Você pode argumentar dizendo que existia mais heróis que heroínas porque era para o público masculino e que as "meninas não gostavam de heróis nem de luta...".
Correção: as meninas foram ENSINADAS a não gostar de heróis/heroínas. Elas foram ensinadas a não gostar de lutas, porque a partir do momento que a menina gosta de luta, ela quererá aprender e praticar arte marcial; e mulher que sabe se defender não é o ideal para uma sociedade que banaliza a violência contra as mulheres.
Agora, com o movimento feminista amplamente divulgado através da revolução técnico-científico-informacional, as mulheres reivindicam por heroínas, reivindicam por REPRESENTATIVIDADE. E representatividade importa, principalmente para crianças que estão criando sua personalidade. Representatividade cria autoestima, cria confiança em si mesmo e em suas potencialidades. Representatividade empodera. Sim, estou ciente de que APENAS representatividade não é o suficiente. Precisamos ocupar espaços onde são tomadas decisões que recaem sobre nossas vidas- espaços políticos, por exemplo.
Muitas pessoas- feministas também- querem deslegitimar a maior criação e divulgação de heroínas com o argumento de que isso é apenas o modo de produção capitalista aproveitando-se do movimento feminista. É óbvio que isso é verdade. O modo de produção capitalista SEMPRE tentará se adaptar às "tendências" do momento. Como ele se aproveita da pauta sobre empoderamento (leia meu texto: Empoderamento e a armadilha do patriarcado). A grande questão é: devemos ter inteligência SUFICIENTE para separarmos o joio do trigo, a rocha máfica da félsica! Como assim?
Aproveitemos e cobremos por mais heroínas no meio artístico (filmes e livros) por nossas meninas e por nós também. Heroínas lutam e heroínas inspiram a lutar. Meninas precisam ser motivadas desde cedo à prática de esportes, de artes marciais, porque AINDA VIVEMOS EM UM MUNDO MACHISTA E SEXISTA. Precisamos protegê-las de pessoas mau-caráter, desequilibradas sexuais, que abusam, que violentam e que NÃO QUEREM MUDAR. Arte marcial para mulheres é MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA. Chegará um momento da humanidade que não mais precisaremos de artes marciais para nos defendermos devido a vitória da educação feminista; em que faremos artes marciais APENAS por hobby, por prazer (podemos amar as artes marciais inclusive devido a filosofia de muitas delas, devido os exercícios, as interações...); mas enquanto isso não acontece: empodere-se atráves da arte marcial.
Para alguns "intelectuais", qualquer menção à cultura ocidental é motivo de piada, de ridicularização; como se o fato de você se sentir conectado com histórias de heróis e heroínas, ou sobre magia, fosse definir o grau de conexões neurais que tua mente pode realizar, como se fosse definir o quão "politizado" alguém é. Conheço "intelectuais" com títulos de "doutores" totalmente enviesados em suas estufas intelectuais, que acreditam que o Estado perdeu seu "poder" na atualidade, sendo que se lessem os textos de Ellen Wood, notadamente o capítulo "Estado, democracia e globalização" presente no livro "A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas", entenderiam que não existe democracia- não aquela democracia que nasce com os atenienses- nas sociedades atuais, justamente porque esse Estado se mostra em todas as formas de manifestações espaciais: desde a capital até a fronteira, de forma a passar pelas malhas hierarquizadas e pelas redes de circulação (RAFFESTIN, 1993). E esse Estado serve às classes dominantes, que é uma pequena parcela da população. É como a lei de Pareto, também conhecida como o princípio 80/20, que explica que geralmente 80% dos efeitos advém de 20% das causas. Um raciocínio semelhante é: 80% da riqueza mundial está dominada por 20% da população.
Se esses intelectuais tivessem ao menos lido- e sobretudo, entendido- o capítulo "Barbárie e Civilização" do livro "A origem da família, da propriedade privada e do Estado" teriam entendido essa obsessão louca do modo de produção capitalista e do patriarcado, em manter a mulher submissa ao homem (fato que existe em muitos países do mundo, principalmente em países da Ásia, África, em que os violentos usam a frase mágica "é da nossa cultura" para justificar práticas torturantes e violentas em suas "culturas". Gosto sempre de lembrar que os próprios antropólogos- aqueles que estudam as culturas do mundo- explicam que a cultura é um elemento plástico, ou seja, passível de ser modificada (DA MATTA, 1981)).
Portanto, não se trata de "maturidade científica" e sim de uma esterilidade científica; é uma arrogância intelectual pré-julgar a sintonia que existe entre muitas pessoas e seus heróis de mangás, HQs, quadrinhos... É importante sairmos da caverna (sim, faço analogia com o Mito da caverna de Platão), é importante a criticidade, mas infelizmente, apesar dos (as) brilhantes (as) teóricos terem contribuído para a produção de conhecimento de qualidade, eles (as) não conseguem suprir nossas necessidades de fugirmos dessa realidade tão contraditória e muitas vezes infeliz em que vivemos. É sobretudo àqueles que buscam estudar a sociedade, que precisam de suas fugas (mas eu me refiro às fugas inteligentes, não àquelas que são um suicídio indireto e paulatino, como as drogas "legais" e ilegais), precisam fugir para mundos mágicos como Nárnia, ou o mundo bruxo de Harry Potter, com a intenção de haurirem forças para suportar e mudar o mundo real.
Garota, tenha convicção de quem você é, do que acredita, do que você é capaz, e jamais permita que pessoas mudem a tua essência, ou que te afaste da magia e dos "superpoderes". Muitas vezes, é sobre salvar vidas através da magia. No texto sobre "A constelação de Gandhi" eu digo, como que o mundo mágico de Harry Potter salvou o meu mundo trouxa.
Amor vincit omnia,
T.V.
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