Falar sobre perdão é algo complexo e só tem propriedade para falar desse assunto quem já muito teve que perdoar. Só tem propriedade para falar sobre o assunto quem já conseguiu perdoar, porque senão a essas pessoas que falam da boca para fora sobre a importância do perdão, a frase de C.S.Lewis se encaixa muito bem: ''Todos dizem que o perdão é uma ideia maravilhosa até que elas possuam algo para perdoar''.
E eu? Será que tenho propriedade para falar sobre o assunto?
Eu prometi a mim mesma que apenas falaria sobre perdão quando enfim tivesse conseguido perdoar aquele familiar, que mencionei no texto Constelação de Gandhi.
Começei a perdoá-la quando ouvi Rossandro Klinjey contando uma história:
Uma mulher estava no ônibus, a fim de chegar em seu trabalho, quando um indivíduo nada bem do estômago, vomita nela. O que ela faz? Ora, para dar uma amenizada na situação de sua blusa, ela pega a vasilha de Tupperware que ia devolver para sua amiga do trabalho (eu não estou ganhando nada para fazer propaganda da Tupperware, só estou citando porque Rossandro falou que a vasilha era da Tupperware) e começa a fazer com que o excesso de vômito em sua camisa, escorra para a vasilha e não fique pigando dela. Chega no trabalho e mostra o que aconteceu a sua amiga, aquela que é a dona da vasilha, e essa diz que não quer mais a vasilha. A mulher que foi vomitada, chega em casa, e mostra à sua família o vômito na vasilha. No final de semana, sabe como é né, parentes reunidos, e o que ela faz? Mostra o vômito para todos. Ela até abre a tampa para o pessoal sentir o aroma.
E então....O que acham? Mulher louca né? Porque ela não jogou fora assim que chegou em casa aquela vasilha nojenta, ou até mesmo no trabalho ela poderia ter jogado fora já que sua amiga disse que não queria mais? Ela mostrou para todo mundo, como se fosse um objeto precioso tipo Smeagol segurando o anel (eu sou chata mesmo, adoro referências, e essa referência é do Senhor dos Anéis, se não assistiu ainda não viveu), aquela vasilha com vômito.
Então eu percebi que eu também guardava vômito na Tupperware. Eu até cheirava esse vômito, eu mostrava a todos a vasilha com o vômito. Como assim? O vômito de meu familiar continuava na vasilha. Mas eu consegui jogar a vasilha fora. Depois de anos enlouquecedores de mágoa e ressentimento (sentindo novamente o que aconteceu), eu joguei fora a vasilha com o vômito. E muita coisa que eu pensava que a mágoa que sentia por ela não interferia, melhorou.
Foi fácil? Não. Nem um pouco. Eu sou cristã, sou espírita, então acredito em Deus, um deus chamado Deus. Talvez você que me leia, acredite em outro deus, ou outros deuses, ou não acredite em deuses, ou tenha uma religião que acredita no mesmo deus que eu acredito, mas que tenha interpretações diferentes da Bíblia. Enfim, eu pedia todos os dias a esse Deus que me ajudasse, pedia todos os dias ao meu anjo da guarda para me ajudar a perdoar meu parente. Quando digo todos os dias, quero dizer: duas vezes no dia, assim que acordava e antes de dormir. Louca? Não. Só querendo seguir a vida sem ressentimentos sufocantes.
Pedir ao seu deus para que te ajude, é um catalisador para que a reação do perdão aconteça. Mas ..... e você que não acredita em nenhuma força espiritual, que não se pode tocar nem ver, mas que no fundo você sente que existe? Você pode acreditar no Tempo. E acredite, ele cura muitas coisas.
Ah, sim, para nós que acreditamos em algum deus, é importante que nos lembremos que esse deus que projetou a formação desse planeta e de tantos outros que desconhecemos no meio das 125 bilhões de galáxias do universo; da mesma forma que ama você, ama também a pessoa que você mais odeia, então, bem, alguma coisa de boa deve ter nela, a gente não consegue ver, porque bem, a pessoa é um.....mas nosso deus com visão bem melhor que Clark Kent ou Kara Danvers consegue.
Enquanto isso....enquanto a reação não acontece, esteja em cada momento, esteja em cada lugar, seja o aqui e o agora, e não deixe sua mente voltar para aquela pessoa, porque é isso que acontece: volta e meia, voltamos ao princípio do fim: fim da nossa paz. Se você não convive com essa pessoa, melhor ainda, se tiver que vê-la no trabalho ou na universidade, saiba de uma coisa: deixa a pessoa no lugar que você a vê, não a leve para sua casa, não deixe que ela infernize seu dia ou sua vida, mais do que ela já fez. Se é alguém que mora na mesma casa, evite conflitos, para de ficar discutindo porque não vale a pena, não vai ser dessa forma que a pessoa vai se tornar melhor. Saiba que o mundo seria melhor se apenas falássemos quando nossas palavras fossem mais poderosas que o silêncio. Estuda, trabalha, lê, faz algo bom por você e por outros, e sempre quando estiver fazendo tais coisas, seja o momento. Para de trazer tal pessoa para perto de você o tempo todo. Mas....e quando você tiver que vê-la? Ah, por favor, enquanto você ainda não consegui deixar de ter raiva dela, apenas diga monossílabos, não fale muito porque é capaz de você soltar algum dardo em forma de palavras. Se não conseguir dar um bom dia, tenta em outro dia. A reação química e física que é o perdão não acontece abruptamente, é algo paulatino, e enquanto não acontece....você não acha que tem que estar estudando para a prova do mestrado? Ou, você tem um prazo a cumprir para entregar algo, ou fazer algo, estudar, enfim, você quer que essa pessoa a lá Voldermort faça você ser reclamada no trabalho, ser reprovada na disciplina porque não consegue se concentrar direito já que tá pensando naquela pessoa 24 horas por dia, porque se a gente der bobeira até sonhamos com essa pessoa.
Sabe, perdoar não é amar nem confiar na pessoa. Como confiar em alguém que você sabe que na primeira oportunidade que tiver pode te machucar física ou psicologicamente? Como ter as mesmas efusões de amor e alegria, como temos quando estamos com alguém que nos quer bem, com alguém que sabemos que pode nos ferir em nossos interesses?
Perdoar portanto, é algo muito mais incrível que tudo: é não permitir que essa pessoa que já te fez mal, continue fazendo mal. Quando me dei conta do que realmente significa perdoar, eu pensei: não vou deixar que esse familiar continue estragando minha vida. Porque afinal, 10% das coisas que nos acontecem, não podemos controlar, mas os 90% apenas cabem a nós. Esses 90%, são as nossas reações ao que nos acontece. Esse é o príncipio 90/10, da psicologia.
Mas, há tanta coisa para perdoar.
Para uma pessoa que sofreu abuso sexual, perdoar o pai que traiu a mãe ou perdoar a ingratidão de filhos que não aceitam a condição financeira da família, é bem simples, é bem mais fácil. Eu gostaria de não ter que escrever sobre isso, porque gostaria que minhas irmãs universais não mais passassem por isso. Mas ainda há pessoas egoístas que por um desequilibrio sexual e moral pensam que por estarem com vontade de praticar sexo, devem forçar qualquer pessoa que vê a sua frente à satisfazê-las. Sinceramente, se você irmã universal que me lê, passou por isso, eu não apenas estou aqui por você, como também te digo que uma das melhores formas de vencermos a dor que alguém nos infligiu é colocando um band- aid nas cicatrizes de outros. Não tenta fugir dos pensamentos que veem te atormentar relembrando o momento, com bebidas alcoólicas ou entorpecentes. Sabe por que? Porque assim você vai estar contraindo mais problemas, além de psicológicos, físicos. Você pode me dizer: é melhor eu me enchafurdar na bebida que me matar, eu já estou na merda mesmo, por que me preocupar com meu fígado ao beber cerveja ou outras bebidas alcoólicas, sendo que meu psicológico já tá destroçado?
E eu ,o que eu te digo?
Tua vida vale muito. Você pode não saber ainda, mas tua vida vale muito para outras pessoas que você ainda não conhece (os amigos que ainda não conhecemos) e também para as que te conhecem. Não necessariamente, tem que ser outras irmãs que passaram pelo mesmo que você, mas você pode ajudar pessoas com outros tipos de feridas. Sabe, tem um feitiço no mundo dos bruxos de Harry Potter que se chama: PROTEGO.
Lance um PROTEGO toda vez que tua mente voltar para o que aconteceu.
E o que é esse PROTEGO no mundo dos trouxas (nomenclatura dada por Joanne Rowling a nós que não fazemos mágica, que não somos bruxos, como Hermione, Harry, Rony, Dumbledore...... tá bom parei): é usar a magia mais poderosa do mundo: o amor. Não tô dizendo que é para você amar aquele ou aquela que te feriu, mas digo para amar. Amar a si mesma, e quando você consegue amar a si mesma você não se deixa cair no Tártaro (lugar de trevas da mitologia grega). Você luta por si mesma, você não entrega as cartas, você não sai da peça até ela ser desfechada com uma salva de palmas.
Você é uma heroína não por ter passado por algo tão ruim, mas é uma heroína porque se levantou depois de um golpe brutal. Você é uma heroína porque vai dedicar tua vida (como todos deveriam fazer, independente de serem homens ou mulheres) àqueles que se encontram em situações piores ou iguais à nossa. Para isso é necessário estudar, se capacitar, ter uma profissão que nos gerará renda, e essa renda pode ser usada para ajudar. Mas.... há milhões de formas de se ajudar sem necessariamente incluir dinheiro. Qual outra magia tão poderosa? As palavras.
Há também a tua presença, o teu escutar o outro, ir ao encontro do outro, perguntar em que pode ajudar, e muitas vezes eles responderão: já tá ajudando.
Joga fora o vômito que está na vasilha. Reseta o sistema. Renasce da cinzas.
Visite e siga o Pinterest do site Quem lê as aparências
Vamos conscientizar mais pessoas para fazermos um mundo melhor.
Amor vincit omnia!
T.V